segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Você sabe o que tá cantando? - Especial Waldeloir Rego


C

Cabecêro.s.m. Corrutela de cabeceiro, derivado de cabeça do latimcapitiu.Cabeceiro designa o capoeira que usa, com frequência, golpes com a cabeça.

Ex:
Quis me matá
Iê, quis me matá
Camarado
Na falsidade
Iê, na falsidade
Camarado
Faca de ponta
Iê, faca de ponta
Camarado
Sabe furá
Iê, sabe furá
Camarado
Ele é cabecêro
Iê, êle é cabecêro
Camarado
E mandinguêro
Iê, ele é mandinguêro
Camarado
No campo de batalha
Iê, no campo de batalha
Camarado
Viva meu mestre
Iê, viva meu mestre
Camarado
Que me insinô
Iê, que me insinô
Camarado
A madrugada
Iê, a madrugada
Camarado
Da capoêra
Iê, da capoêra
Camarado

Cabôco.s.m. Corrutela de caboclo, de origem ainda controversa.O vocábulo significa o nascido de pai indígena e mãe africana.

Ex:
Tim, tim, tim Aluandê
Aluande cabôco é mungunjê
Tim, tim, tim Aluandê
Aluanda, Aluanda, Aluandê
Tim, tim, tim Aluandê
Aluanda hoje é ferro de batê
Tim, tim, tim Aluandê
Eu cheguei lá in casa
Não vi vosmicê.

Cabra.s.f. Do latim capra.No Brasil o vocábulo, além de ser designativo de um animal, é também o domulato escuro e do indivíduo agressivo e de mau caráter. Esse tipo de gente sempre inquietou a segurança pública.

Ex:
Na justa lei da região
Cabra conhece o perigo
Do cotuvelo pra mão
O diabo tem cinqüenta dente
Vinte e cinco são de prata
Vinte e cinco so de latão.

Cabula. s.m. Nome de um bairro de Salvador. De origem ainda desconhecida. Esse bairro foi refúgio de negros africanos e até hoje está lá a marca de suas presenças, com os inúmerosos candomblés, sobretudo os de “nação Angola”, que possuem um toque chamado cabula, daí a provável origem do nome do bairro. 

Ex:
Chora minino
Nhem, nhem, nhem
O minino e chorão
Nhem, nhem, nhem
Sua mãe foi pra fonte
Nhem, nhem, nhem
Ela foi pro Cabula
Nhem, nhem, nhem
Foi comprá jaca dura
Nhem, nhem, nhem
Da cabeça madura
Nhem, nhem, nhem
O minino chorão
Nhem, nhem, nhem
Choro qué mamá
Nhem, nhem, nhem

Cachaça. s.f. Designa aguardente.

Ex:
Oi i oi i
Você tem cachaça aí
Oi i oi i
Você tem cachaça aí
Oi i oi i
Você tem mais não qué dá
Oi i oi i
Ferro grande é meu facão
Oi i oi i
Dente de onça é môrão
Oi i ôi i
Aranha Caranguejêra
Oi i oi i
E o cavalo do cão
Oi i ôi i
Você tem cachaça aí
Oi i oi i
Você tem mas não qué dá.

Caco Velho. s.m. Nome próprio personativo. Apelido com acepção jocosa. 

Ex:
Não se mêta meu irmão
Qui esse home é valente
Na usina Caco Velho
Já matô Chico Simão
Vamo imbora camarado
Vamo saí dessa jogada
A festa é muito boa
Mas vai tê muita pancada.

Caetano.s.m. Nome próprio personativo. Leite de Vasconcelos diz que Caetano está por Caietano, este do latim Caietanus, habitante de Caieta, na Itália.

Ex:
Cobra mordeu São Bento, Caetano
Cobra mordeu São Bento, Caetano

Calumbi. s.m. Corrutela de caá-r-umby, a folha apinhada, arroxeada, o anel. Designa uma planta leguminosa (Mimosa asperata, Linneu).

Ex:
Meu braço tem meia libra
Ferro grande é meu facão
Não respeito calumbi
Tando cá foice na mão.

Camará. s.m. Corrutela de camarada. No linguajar da capoeira aparece com a acepção pura e simples de companheiro.

Ex:
Camarado toma cuidado
Camaradinho ê
Camaradinho, camará
Camaradinho ê
Camaradinho, camará
Capoera qué te matá
Eu não posso apanhá
Camaradinho ê
Joga pra traz.

Camboatá.s.m. Designa uma qualidade de peixe pequeno que vive em Agua doce (Silurus callichthys, Linneu).

Camunjerê.Termo desconhecido na sua origem e na sua acepção.

Candomblé.s.m. Termo de origem ainda desconhecida. Designa a religião que os africanos trouxeram para o Brasil. 

Ex:
Não gosto de candomblé
Que é festa de feticêro
Quando a cabeça me dói
Serei um dos primêros
Procópio tava na sala
Esperando santo chegá
Quando chegou seu Pedrito
Procópio passa pra cá
Galinha tem fôrça n'asa
O galo no esporão
Procópio no candomblé
Pedrito é no facão

Cantá. v. Corrutela de cantar

Ex:
Riachão tava cantando
Na cidade de Açu
Quando apareceu um nêgo
Como a espece de ôrubú
Tinha casaca de sola
Tinha calça de couro cru
Beiços grossos redrobado
Da grossura de um chinelo
Tinha o ôlho incravado
Outro ôlho era amarelo
Convidô Riachão
Pra cantá o martelo
Riachão arrespondeu
Não canto cum nêgo desconhecido
Ele pode sê um escravo
Ande por aqui fugido
Eu sô livre como um vento
Tenho minha linguagem nobre
Naci dentro da pobreza
Não naci na raça pobre
Que idade tem você
Que conheceu meu avô
Você tá parecendo
Que é mais môço do que eu.

Cão.s.m. Aparece documentado na língua portuguesa, no ano de 1152, nos Portugaliæ Monumenta Historica, no volume dos Leges et Consuetúdines, designando o animal.Aparece com a acepção de demônio.

Ex:
Oi quem é esse nêgo
Dá, dá, dá no nêgo
O no nêgo você não dá
Este nego é valente
Este nêgo é valente
Este nêgo é o cão.

Ca ô cabiesi.Corrutela de Ka wo ká biyè sí, expressão com que os povos nagôs saúdam Xangô, deus do fogo e do trovão e que segundo Johnson foi o quarto rei lendário de Oyó, capital dos povos iorubás.

Ex:
Acabe co’êste Santo
Pedrito vem aí 
Lá vem cantando ca o cabieci
Lá vem cantando ca ô cabieci.

Capoêra. s.f. Corrutela de capoeira.


Ex:
Quis me matá
Iê, quis me matá
Camarado
Na falsidade
Iê, na falsidade
Camarado
Faca de ponta
Iê, faca de ponta
Camarado
Sabe furá
Iê, sabe furá
Camarado
Ele é cabecêro
Iê, êle é cabecêro
Camarado
E mandinguêro
Iê, ele é mandinguêro
Camarado
No campo de batalha
Iê, no campo de batalha
Camarado
Viva meu mestre
Iê, viva meu mestre
Camarado
Que me insinô
Iê, que me insinô
Camarado
A madrugada
Iê, a madrugada
Camarado
Da capoêra
Iê, da capoêra
Camarado

Carcunda. s.f. De origem duvidosa. Na Bahia, a forma mais corrente é corcunda.

Ex:
Carcunda onte teve aqui
Deu dois minréis a papai
Três minréis a mamãe
Café e açuca a vovó
Dois vintém para mim só
Sim sinho meu camarada
Quando eu entrá você entra
Quando eu saí você sai
Passá bem ou passá má
Tudo no tempo é passá.

Carrapato. s.m. De origem incerta.

Ex:
Minina vamo pro mato
Vamo catá carrapato
Minina vamo pra sala
Levá pulga da senzala
Minina vamo pra cama
Vamo catá percevejo
Minina vamo pro mangue
Vamo catá caranguejo.

Chamá. v. Corrutela de chamar.

Ex:
Cabôco do mato vem cá
O meu berimbau
Mando lhe chamá.

Chico Simão. s.m. Nome próprio. 

Ex:
Não se mêta meu irmão
Qui esse home é valente
Na usina Caco Velho
Já matô Chico Simão
Vamo imbora camarado
Vamo saí dessa jogada
A festa é muito boa
Mas vai tê muita pancada.

Chique-Chique s.m. Espécie de planta da família das leguminosas (Crotalaria braclysacha, Benth). De origem desconhecida.

Ex:
Chique-chique mocambira
Mandacaru parmatória
A mulé quando não presta
O home manda imbora
O qui foi qui a nêga disse
Quando viu a sinhá
Uma mão me dê me dê
Outra mão de cá dê cá.


Chita s.f. Designa uma espécie de tecido.
Ex:

São três coisas nesse mundo
Qui meu coração palpita
E um berimbau banzêro
Uma morena donzela
E seu vistido de chita.


Chotão s.m. Diz-se do burro que tem o passo incerto, saltiante.
Ex:
São quanta coisa no mundo
Que o home lhe consome
Uma casa pingando
Um cavalo chotão
Uma mulé ciumenta
E um minino chorão
Tudo isso o home dá jeito
A casa ele retelha
O cavalo negoceia
O minino a mãe calenta
Mulé ciumenta
Cai na peia.
Caiman s.m. De origem incerta.
Ex:
Qui vai caiman
Caiman caiman
Qui vai caiman
Para ilha de Maré
Caiman, caiman, caiman.


Cocorocô Voz onomatopeica emitida pelos galos.
Ex:
E aquinderreis
E aquinderreis
Camarado
E galo cantô
E galo cantô
Camarado
E cocorocô
E cocorocô
Camarado
E vamo imbora
E vamo imbora
Camarado
E mundo afora
E mundo afora
Camarado
E vorta do mundo
E vorta do mundo
Camarado
E qui mundo dá
E qui mundo dá
Camarado
E qui mundo tem
E qui mundo tem
Camarado.



Coité s.m. Nome próprio designativo de uma localidade no Estado da Paraíba.
Ex:
Riachão stava cantando
De Coité a Pimentêra
Quando apareceu um nêgo
Dizendo desta manêra
Você disse que ama a Deus
O teu Deus te enganô
Salomão ele fez rês
São Pedro sempre soldado
Fez um rico outro pobre
Outro cego outro alejado
Salomão ele fez rês
porque ele merecia
São Pedro um simples soldado
Porque a ele lhe cabia
Fez um rico outro pobre
Visso tudo Deus sabia.
Colongolô .Termo desconhecido na sua origem e na sua acepcão.
Ex:
Calangolô, tá como passo
Calangolô, ta como passô.
Comade. s.m. Corrutela de comadre. Com a acepção de padrinho e madrinha extensiva às pessoas idosas, que desfrutam de certa intimidade na família, como ocorre no Brasil com as expressões compadre comadre, funcionando como tratamento respeitoso.
Ex:
Oi a casca da cobra
Sinhô Sao Bento
O que cobra danada
Sinhô São Bento
O que cobra malvada
Sinhô São Bento
Buraco velho
Sinhô São Bento
Oi o pulo da cobra
Sinhô São Bento
E cumpade.


Convidô.v. Corrutela de convidou, do verbo convidar.
Ex:
Riachão tava cantando
Na cidade de Açu
Quando apareceu um nêgo
Como a espece de ôrubú
Tinha casaca de sola
Tinha calça de couro cru
Beiços grossos redrobado
Da grossura de um chinelo
Tinha o ôlho incravado
Outro ôlho era amarelo
Convidô Riachão
Pra cantá o martelo
Riachão arrespondeu
Não canto cum nêgo desconhecido
Ele pode sê um escravo
Ande por aqui fugido
Eu sô livre como um vento
Tenho minha linguagem nobre
Naci dentro da pobreza
Não naci na raça pobre
Que idade tem você
Que conheceu meu avô
Você tá parecendo
Que é mais môço do que eu.


Cortá. v. Corrutela de cortar.
Ex:
Esse home é valente
Sei sim sinhô
Ele sta com a navalha
Sei sim sinhô
Ele vai lhe cortá
Sei sim sinhô
O muleque é ligero
Sei sim sinhô
Ele vai lhe pegá
Sei sim sinhô
Cuidado com ele
Sei sim sinhô
Ele qué lhe matá
Sei sim sinhô


Cu. s.m. Com este vocábulo, o povo ora designa o orifício do intestino, comummente conhecido por ânus, ora as partes traseiras em que o homem ou animal se apóiam para sentarem, também chamadas nádegas ou bunda, termo africano tão popular quanto a palavra cu.
Ex:
Na minha casa veio um home
Da espece dos urubus
Tinha camisa de sola
Paletó de couro cru
Faca de ponta no cinto
Rabo cumprido no cu
Os beiço grosso e virado
Como sola de chinelo
Um zóio bem encarnado
Outro bastante amarelo.


Cum. prep. Corrutela de com.
Ex:
Riachão tava cantando
Na cidade de Açu
Quando apareceu um nêgo
Como a espece de ôrubú
Tinha casaca de sola
Tinha calça de couro cru
Beiços grossos redrobado
Da grossura de um chinelo
Tinha o ôlho incravado
Outro ôlho era amarelo
Convidô Riachão
Pra cantá o martelo
Riachão arrespondeu
Não canto cum nêgo desconhecido
Ele pode sê um escravo
Ande por aqui fugido
Eu sô livre como um vento
Tenho minha linguagem nobre
Naci dentro da pobreza
Não naci na raça pobre
Que idade tem você
Que conheceu meu avô
Você tá parecendo
Que é mais môço do que eu.


Cumi. v. Corrutela de comi do verbo comer.
Ex:
No tempo que eu tinha dinhêro
Cumi na mesa cum yoyô
Cumi na mesa cum sinhá
Agora dinhêro acabó
Capoêra qué me matá.


Cumpade. s.m.Corrutela de compadre.
Ex:
Esta cobra te morde
Sinhô São Bento
Oi o bote da cobra
Sinhô São Bento
Oi a cobra mordeu
Sinhô São Bento
O veneno da cobra
Sinhô São Bento
Oi a casca da cobra
Sinhô São Bento
O que cobra danada
Sinhô São Bento
O que cobra marvada
Sinhô São Bento
Buraco velho
Sinhô São Bento
Tem cobra dentro
Sinhô São Bento
Oi o pulo da cobra
Sinhô São Bento
E cumpade.


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REGO, Waldeloir. Capoeira Angola – Ensaio sócio-etnográfico. Salvador:Editora Itapoan,1968






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